Certo dia um caixeiro viajante andava com sua carga, percorrendo léguas e léguas até seu lugar de destino, pelo interior do Nordeste brasileiro. Cansado pela exaustão do longo caminho percorrido, o viajante pediu dormida em uma fazenda que ficava próximo da estrada. O fazendeiro dono da casa era um homem de posses, prestativo e solidário a quem lhe pedia ajuda, e gostava de servir aos outros, mesmo a quem não conhecia.
Como de costume após a janta, todos se reuniam na frente da casa em um alpendre para conversar e entreter a noite antes de dormir. Na conversa tinha os mais variados assuntos, desde a luta do dia a dia a mitos e lendas e estórias que envolvem o imaginário popular. Quando a noite caía e a escuridão aumentava, já era hora de adentrar os aposentos da casa e procurar um lugar para dormir e descansar depois da lida do dia.
Convidado pelo dono a também entrar para se deitar dentro da casa, o corajoso e destemido viajante disse que dormiria mesmo ali fora. O fazendeiro que também era brincalhão, respondeu apenas para ele ter cuidado com a Cruviana que costumeiramente aparecia nas madrugadas na região. Intrigado e sem saber o que era a tal cruviana, o caixeiro resolveu mesmo assim ficar do lado de fora no alpendre, com uma espingarda que era sua companhia.
A madrugada veio e junto dela um vento frio e rasteiro. De repente um barulho estranho surge ao longe no meio do mato. Com a escuridão da noite e a intensidade do barulho aumentando e vindo em sua direção, o viajante pegou sua armar e deu um tiro em meio à escuridão. Com o disparo todos da casa se levantaram e foram ver o ocorrido, quando o homem já foi logo dizendo que havia dado um tiro certeiro e matado a tal Cruviana, falando que ela sequer reagiu.
Iluminado o seu rosto com a luz da lamparina, o viajante foi avisado que cruviana era o frio da madrugada e que ele havia atirado em um dos animais que tinha se soltado. Para sua tristeza, era uma égua que custou um bom dinheiro e que havia recém chegado à fazenda e que ainda tentava se acostumar na nova morada.
Por sorte e devido ao escuro da noite, o tiro passou de raspão e o animal não morreu, e com o barulho do disparo os homens da fazenda capturaram a égua que já fugia das proximidades da casa grande.
A Lenda da Cruviana
Contam os mais velhos que desde à época em que no Brasil, os povos indígenas eram maioria, que a Cruviana aparece nas frias noites. O vento frio indica a sua presença, ela percorre muitos lugares durante a madrugada.
A Cruviana era considerada a deusa do vento e da neblina, que à noite se transforma em uma suave brisa, acompanhada de nevoeiro, e diziam que esta, quando encontrava um forasteiro nas terras escolhidas para abençoar com a sua presença, envolvia este, encantando-o, fazendo com que nunca mais quisesse voltar à sua terra natal, permanecendo para sempre no lugar.
Texto: Augusto Júnior Vasconcelos.
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