Antigamente era muito comum se ouvir a expressão “fulano de tal não tem nem eira e nem beira” no dia a dia das vilas no interior do Nordeste brasileiro assim como na simpática Vila de Marvão, atual cidade de Castelo do Piauí, uma das primeiras vilas da então província do Piauí.
As casas do período colonial brasileiro que possuíam a eira e a beira eram de famílias consideradas de classe média e os mais ricos tinham além da eira e da beira, também a tribeira.
O que quer dizer Sem eira e nem beira
Significa pessoas sem bens, que não tem posses, se falava na época que a pessoa que não tinha eira nem beira era o mesmo que dizer que fulano não tinha onde cair morto, o famoso pé rapado. A expressão já era usada em Portugal e a palavra eira vem do latim quer dizer algo parecido com área, significando um espaço de terra batida, lajeada ou cimentada, nos fundos da casa onde eram colocados os grãos ao ar livre para secar.
Enquanto que a beira era uma extensão do telhado. As beiras são ornamentos de profundidade pequena na alvenaria, no ponto de ligação com o telhado. Muitas vezes eram feitas com o próprio material do revestimento, usando telhas como moldes.
Existem outras explicações com significados diferentes para eira, beira e tribeira uma delas diz que seriam beirais duplos ou triplos na realidade mais elaborados que só as casas dos mais ricos possuíam. As famílias mais ricas construíam suas residências com os três acabamentos do telhado, enquanto que as casas mais populares eram feitas apenas com uma delas.
Conversas de calçada, a calçada da fama ou rádio calçada da época, relatavam que os ricos fazendeiros e coronéis olhavam os mais pobres com desdém, o que convenhamos, não é nenhuma surpresa para quem vive nos dias de hoje.
Naquela época na pequena Vila de Marvão, quando uma moça se apaixonava por um rapaz pobre, os pais repreendiam. “Mas a casa dele não tem eira nem beira”, diziam. Ainda hoje a arquitetura nas cidades pequenas e nos grandes centros do país denunciam formas de segregação social e econômica.
É rapaz, pensando aqui com meus botões, para conseguir um bom partido, como se dizia antigamente, era necessário ter eira e beira também na Vila de Marvão. Se não fosse a ação antrópica ainda conseguiríamos ver os acabamentos mais sofisticados da arquitetura colonial no centro histórico de Castelo do Piauí que vem sendo transformado em ritmo acelerado.
Texto: Augusto júnior Vasconcelos.
Apoio Cultural:
2 Comentários
Gostei muito. A busca por nossas orientações, nossa história, faz parte da construção de nossa identidade e nós fortalece. Somos um povo muito forte.
ResponderExcluirMuito obrigado, continue acessando o blog.
ResponderExcluir