No início da década de 70 uma corrida entre dois competidores parou a pacata e pequena Castelo do Piauí, localizada na região norte do estado a 190 km distante da capital piauiense. A antiga Vila de Marvão foi palco dessa verdadeira epopeia entre Miúdo e Zé Branda.

A disputa se deu porque ambos eram muito bons em caminhar por longas distâncias percorrendo à pé o interior do município. Miúdo era vendedor de galinhas e trazia no ombro muitas destas aves, como chamavam antigamente, um pau de galinhas nas costas, para vender na Praça Francisco Cardoso, centro da cidade.

Tanto Miúdo quanto Zé Branda, tinha a admiração dos populares, principalmente dos comerciantes do centro e de algumas autoridades locais que passaram a brincar e discutir qual dos dois era o mais resistente. A teima ficou tão séria, que resolveram fazer uma aposta e organizar uma disputa entre os dois para saber quem realmente era o melhor.

Os Competidores

Antonio Duniz “O Miúdo” era da família Soares de Souza, morador do povoado Alegre próximo ao Açude do Mão Cortada, na zona rural de Castelo. Tinha o hábito de andar pela região interiorana e sede do município sempre à pé em um ritmo rápido e constante, ganhando a fama de ligeirinho.

Já Zé Branda por sua vez, pertencia à família Nunes e morava na sede do município onde hoje seria o bairro do Matadouro. Também andava muito pela zona rural de Castelo onde fazia roças pelo interior e com o mesmo costume de seu adversário da corrida, sempre à pé.

Tanto Miúdo quanto Zé Branda, não eram corredores profissionais, mas adquiriram grande resistência oriundas de suas jornadas pelo interior do município de Castelo. 

A corrida

Cercada de muita expectativa porque era só no que se falava durante os antecedentes do, digamos, evento esportivo, e por ter muitas apostas feitas. A corrida teve inicio na localidade Sapucaial, que dista aproximadamente 40 km de Castelo e com percurso feito todo na PI 115.

A corrida foi um misto de maratona e marcha atlética na estrada vicinal e acidentada o que dificultava ainda mais a competição. Desde a largada até mais ou menos metade da prova, a disputa foi acirrada com alternância na liderança e com os adversários encarando um ao outro sem nada falar mais com respeito mútuo. Depois de 15 km percorridos, Miúdo tomou à dianteira, disparando na frente.

Zé Branda quando chegou ao Bonito, próximo à entrada da Pedra do Castelo, começou a sentir fortes dores no joelho, nessa altura da prova seu oponente já estava bem à frente, lá pelas bandas da Cruz das Almas.

Branda não aguentando mais as dores e foi obrigado a desistir, mas vale ressaltar aqui sua bravura em competir limpo e de igual para igual até atingir seu limite. Enquanto isso Miúdo era avisado da desistência do adversário e que já era considerado o vencedor da disputa e da prova. E quem foi que disse que ele quis parar de correr?

Respondeu sorrindo que iria concluir todo o percurso da prova que, diga-se de passagem, tinha toda uma estrutura de logística de apoio mesmo para aquela época com ambulância e postos de distribuição de água ao longo de seu trajeto.

A chegada

Quando Miúdo apontou na ladeira do Preá (hoje portal de entrada da cidade) uma multidão o aguardava para saudá-lo. A chegada com toda a pompa se deu na Praça Francisco Cardoso, no centro, onde Miúdo cruzou a linha comemorando.

Empoeirado e cansado, porém estava muito feliz e sorridente com a vitória e com a merecida premiação.

Texto: Augusto Júnior Vasconcelos.
Informações: Arcanjo Miguel, Edmar Nunes e França Vasconcelos.