O castelense que viajou à Belém do Pará de bicicleta em 18 dias.

O nome de nosso personagem dessa saga real é Francisco José da Silva "Chico Boa Vista" nascido na Fazenda Santa Teresa, próximo ao povoado Açude Mão Cortada, zona rural de Castelo do Piauí. Desde pequeno acostumado a andar de bicicleta, Chico só fazia suas viagens e mandados de seus pais na sua inseparável Monark Olé 70.

Conversamos com Chico Boa Vista sobre o desafio de pedalar por muitos quilômetros de Castelo do Piauí à Belém do Pará. A saga foi realizada no ano de 1985 quando completou o percurso em 18 dias até a capital paraense.

Antecedentes da longa viagem

Com o preparo físico em dia e à experiência de andar por nossa região, despertou em Chico à vontade de andar por distâncias maiores. Nesse momento o Piauí já era muito conhecido do castelense que resolveu a se aventurar por outros estados da federação.

Sua primeira viagem longa foi para o vizinho estado do Maranhão onde passou pelas cidades de Lago da Pedra, Cariri, Porção de Pedra, Pedreiras, Igarapé Grande, Lago do Rodrigo, Lago do Junco, Paulo Ramos, Vitorino Freire, Maracaçumé, Olho D Água das Cunhãs, dentre outras, todas elas passando à trabalho em algumas fazendas da região.

Voltando à Castelo do Piauí e depois de passar um tempo com seus familiares, o destemido viajante decide voltar a se aventurar, desta vez à ideia era a de ir até Belém do Pará com sua magrela.

A viagem à Belém e o encontro inesperado com um castelense em Maracaçumé

Para não deixar sua família preocupada, Chico não falava de seus planos, primeiro para a sua segurança e segundo porque muitos não iriam acreditar em tamanha façanha e quando o Sol timidamente apresentava seus primeiros raios ao nascer do dia o jovem já havia partido em busca de seu destino montado na sua bicicleta modelo Olé 70.

O almoço foi em Campo Maior e quando o Sol já declinava no horizonte e a luz pouca e suave era chegada à hora do pernoite para o descanso que sempre acontecia nos postos de combustível ou nas pousadas das margens da estrada.

O ano era o de 1985 e a longa, porém prazerosa viagem durou 18 dias até à chegada na capital paraense. Pelo caminho foram muitas histórias que se fôssemos contar aqui não caberiam nesta pequena narrativa. Bebidas, aventuras nas noitadas e muitas outras.

Uma delas me chamou à atenção pelo encontro inesperado com meu pai Antonio Augusto Vasconcelos "Antonino Digola" de saudosa memória, que era caminhoneiro e por coincidência do destino encontrou Chico Boa Vista e bicicleta e uma pequena bagagem em um posto de gasolina na cidade maranhense de Maracaçumé.

Brincalhão meu pai quando o viu foi logo lhe perguntando. "Rapaz o que é que você faz aqui", com os dois rindo em seguida. Chico respondeu que estava indo até Belém e de lá ir de navio até Manaus no Amazonas. Digola ainda lhe ofereceu uma carona de volta ao Piauí na Mercedes 1519 de propriedade de seu patrão Florentino Cardoso (in memorian), mas Chico, corajoso, não desistiu de sua ideia.

Paralelo ao pedal e como forma de tirar um sustento, Chico que é artesão, vendia anéis e chaveiros de tucum, além de couro de guaxinim que segundo os mais velhos serve para tirar ou espantar o quebranto das crianças, artigos bem procurados na época que lhe rendiam algum trocado.

Chegando à Belém, depois de uns dias de descanso, conheceu o famoso Mercado do Ver o Peso, o piauiense foi para Manaus onde trabalhou por alguns anos. Depois o destemido jovem se misturou aos índios da Amazônia e posteriormente trabalhou nos garimpos de Roraima. Passando mais de 20 anos longe de sua terra natal, Chico Boa Vista resolve voltar para casa.

Você deve está se perguntando se também de bicicleta.

Não, dessa vez além dos navios pela região Norte do Brasil até Belém do Pará e de lá até sua casa, veio de ônibus. E a bicicleta? Trouxe, desmontada dentro das gavetas dos ônibus. Hoje Chico Boa Vista está aposentado e reside em Castelo do Piauí, fazendo artesanato como hobby e forma de ajudar a entreter o tempo.

Texto e foto: Augusto Júnior Vasconcelos