Na pequena, porém simpática Vila de Marvão, atual cidade de Castelo do Piauí, que foi uma das sete primeiras vilas criadas na então província do Piauí ainda no período colonial brasileiro, o tempo passava devagar, onde se ouviam as mais diversas estórias, causos e lendas que circundavam o imaginário popular dos poucos moradores.
Muitas dessas histórias se repetiam com as contadas em outras cidades pequenas espalhadas pelo interior do Brasil, como as de lobisomens, homens do saco, mulher da estrada, caipora, saci pererê, mula sem cabeça, dentre outras.
A nossa história que mais se parece com uma lenda urbana, é do endiabrado e temido Vicente Nunes, morador da localidade São José de dentro, zona rural de Castelo do Piauí e que desde novo já apontava das suas como um verdadeiro mentecapto que muito me lembra o Geraldo Viramundo, personagem do livro do Fernando Sabino “O Grande Mentecapto”
A primeira história que se ouvia falar de Vicente, acredite, é era a que ele teria matado a própria mãe e comido o fígado dela e depois tocado fogo na própria casa com suas irmãs dentro. Nunca foi comprovado esse terrível episódio, muito se ouvia falar, talvez era mais um tipo de lenda urbana sobre nosso personagem para colocar medo nas crianças que desobedeciam aos pais e quando ele aparecia pela vila se falava isso.
O Roubo do badalo do sino da Igreja
Para muitos o temido Vicente Nunes era endiabrado porque teria um pacto com o coisa ruim, o cabrunco, porque ninguém o pegava e conseguia se safar das mais difíceis aventuras em que se metia.
Contam os mais antigos moradores da Vila de Marvão que Vicente Nunes teria roubado o badalo do sino da Igreja de Nossa Senhora do Desterro, padroeira da cidade e o escondeu no topo de uma pedra bem alta na fazenda Manoel Lopes, um lugar de difícil acesso e que para ele, andava e subia com a maior facilidade.
A polícia local tomou conhecimento do ocorrido e depois de ouvir os relatos, chegou até onde estaria Vicente, brincando com o badalo. Ao ver o destemido homem os policiais deram ordem para que ele descesse trazendo o objeto de volta.
Zombando da guarnição policial, Vicente zombando dizia ”podem subir e vim pegar”. Os policiais tentavam de todas as formas escalar a rocha sem sucesso. Para insultar Vicente descia até certo ponto e subia de costas com todos assistindo a tudo aquilo incrédulos, sem acreditar em tal feito.
Após subir de costas a pedra, Vicente Nunes pegou o badalo e entregou-o aos policiais e disse que fez tudo aquilo temendo que alguém roubasse da Igreja de sua madrinha.
Vicente Nunes - Herói em uma guerra.
Uma das últimas notícias que se ouviu falar de Vicente Nunes foi a de que ele teria embarcado em um navio e servindo ao exército brasileiro, participou de uma guerra.
Não sabemos de fato em qual delas, para algumas pessoas foi na Guerra do Paraguai, já para outras foi na Segunda Guerra Mundial onde o Brasil também participou enviando muitos soldados.
O ato heroico de nosso personagem que se tem notícia foi que ele jogou no mar um explosivo que caiu dentro da embarcação em que estava uma grande concentração de soldados. Corajoso Vicente jogou na água a bomba antes que ela explodisse, salvando a todos.
O comandante da embarcação de pronto já elevou a patente do bravo soldado condecorando-o como Coronel Vicente Nunes e deram um salve com todos aplaudindo de pé por ele ter salvado a vida de muitas pessoas.
Vicente que não queria saber de tal patente soltou um palavrão dizendo vá p... e qual não foi a surpresa o comandante disse, há é um louco mesmo em não querer uma patente tão alta. Nosso herói respondeu dizendo, eu não quero, já disse que não quero, todos no navio começaram a dá muitas gargalhadas.
Terminada a guerra e do regresso para o Brasil, nunca mais se ouviu falar que fim levou Vicente Nunes. E se realmente ele teria feito tal pacto.
Texto: Augusto Júnior Vasconcelos
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