Muitos já ouviram falar e poucos conhecem o sítio arqueológico da Bebidinha. Ainda bem, digo isso, porque com a dificuldade de acesso, um número restrito de pessoas vai querer ir lá, o que é muito bom para a conservação e preservação do mesmo.


Sou um privilegiado por conhecer grande parte do acervo histórico e cultural, bem como dos aspectos turísticos, geográficos e arqueológicos de nossa região. Ao longo dos últimos anos, participei de algumas aventuras ecológicas pela imensidão de belezas que cercam a região.

Nosso ponto de partida dessa viagem no tempo é a cidade de Castelo do Piauí e o destino é o sítio arqueológico da Bebidinha, situado nos paredões rochosos das margens do Majestoso Poti, na zona rural de Buriti dos Montes. 


É hora de conhecer a turma que fez o passeio conosco.

Carlos Henrique – Mateiro e guia local e profundo conhecedor da região.

Robson Lima - Professor de geografia.

Evaldo Miguel – Topógrafo.

Augusto Júnior Vasconcelos – Professor de geografia e guia de turismo local.


A viagem

Do ponto de nossa partida até a Bebidinha, são mais de 70 km de percurso feito todo em estrada vicinal (carroçável e areia). Para os trechos de areia é indispensável um carro alto e 4x4, para atravessar as dificuldades do acesso, que são muitas, diga-se de passagem. 


A viagem parecia que iria durar um século para chegar, achei que chegaríamos primeiro ao Ceará. Enfim depois de algumas horas de estrada chegamos ao lugar já com o sol de meio dia, mas antes de começar a verdadeira aventura ainda tivemos tempo para tomar um cafezinho na casa do Sr José Wilson e bater um papo agradável, conhecendo as muitas histórias do Poti. Zé Wilson é um habilidoso artesão, o conhecido “Zé Cabôco”.


Depois do café, seguimos em direção ao rio por uma trilha acidentada, porém com uma visão espetacular da Serra do Barreiro, um maciço solto em meio à chapada. Chegando a margem do Poti, atravessamos o rio e a aventura começa a ficar boa (entenda aumentando a dificuldade) com uma escalada.


O lugar

Todo o esforço da subida valeu a pena porque fomos agraciados pela visão panorâmica do rio, contemplando uma boa extensão dele e de todo o cenário em volta. Realmente a natureza foi generosa demais com a geografia de nossa região.


Ao ver aquele cenário de rara beleza, começamos a viajar no tempo e incrédulos, passamos a imaginar a importância daquele lugar para as populações primitivas, que viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos e se fixaram primeiramente quando deixaram de ser nômades justamente nas margens dos rios, de onde tiravam seus sustentos. Observando as serras, vimos que são fronteiras naturais entre os estados do Piauí e do Ceará e que o Poti corta algumas delas, tornando-se um importante corredor migratório.



Muitas teorias afirmam que essas populações primitivas utilizaram essa rota pelo Boqueirão do Poti (Cânion) porque era mais fácil do que subir a serra para chegar ao outro lado. Dá mesma forma que há milhares de anos os primeiros habitantes da região, os colonizadores portugueses também fizeram, assim como os bandeirantes paulistas. Domingo Jorge Velho edificou muitas fazendas ao longo da bacia do Poti.

O lugar se tornou uma rota migratória tanto para o homem primitivo quanto para as populações atuais. O sítio arqueológico da Bebidinha é um verdadeiro tesouro arqueológico escondido no interior do Piauí, protegido pelas forças e guardiões da natureza.


Os primeiros habitantes da região deixaram suas marcas nos paredões rochosos das margens, é um sítio extenso que apresenta diferentes técnicas com estilos variados que podem significar a passagem de diferentes grupos pelo local. Sua extensão é muito grande, percorremos um longo caminho se equilibrando ora nos paredões ora pelo leito seco do rio e mesmo assim não conseguimos chegar o seu final. Imaginem como era o cenário há milhares de anos, com o Poti que tem suas nascentes no Ceará e em pleno vapor vindo em direção ao Piauí.


Com aproximadamente 3 km de gravuras tanto de um lado como do outro, é um dos maiores sítios de gravuras das Américas, em extensão e em quantidade de arte rupestre. Não há dúvidas nenhuma de que em um passado distante, verdadeiros artistas deixaram fortes indícios de suas presenças que se bem preservadas, ficarão para a eternidade.


Mesmo em uma rápida passagem, tivemos a certeza que o lugar foi habitado por um grandioso número de pessoas. Como foi a primeira vez que conheci a Bebidinha, não tinha noção da beleza que nos cercava e do número de gravuras rupestres e começamos a viajar no tempo e tentar entender qual o significado de tudo aquilo. Seria uma tentativa de representar o cotidiano e ensinar aos mais jovens a se defender das intempéries climáticas e de animais ferozes, que certamente eram muitos? Ou repassar informações para futuros grupos que por ali passaram? Deixe a imaginação fluir e também façam suas conclusões caros leitores.


O cansaço bateu quando o Sol foi embora, a noite chegou e exaustos da longa caminhada durante todo o dia, retornamos para casa contentes e satisfeitos por conhecer mais um importante capítulo de nossa história. 


O objetivo da expedição foi o de conhecer o lugar, bem como o de fazer alguns registros fotográficos para o blog e de tentar sensibilizar as pessoas quanto a importância da preservação daquele rico cervo histórico e cultural.


Texto Fotos: Augusto Júnior Vasconcelos.

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