A população brasileira é oriunda de uma miscigenação, tendo como característica marcante uma rica diversidade cultural que se expressa nas mais variadas formas. Quem aí nunca ouviu falar das parteiras do interior do Brasil, mulheres que se tornaram uma espécie de símbolo da tradição antiga pela coragem e sabedoria com que traziam os filhos de suas comunidades ao mundo? 

Nos mais distantes rincões do nosso país, longe dos grandes centros urbanos, principalmente numa época que os hospitais mais próximos ficavam há dezenas de quilômetros,  de onde a população vivia, o trabalho das parteiras tradicionais era essencial. Num  ritual de cuidados, sabedoria e fé, regados de conhecimento empírico, passados de geração em geração,  preparavam as parturientes e o cenário para o momento esperado: bacias com água, cueiros ou pequenos lençóis eram as ferramentas  dessas mulheres, que traziam à luz os filhos do mundo. E, por isso, tornavam-se mães de toda a comunidade, respeitadas e honradas. São muitas as mães Marias, Antônias, Luzias e Normas espalhadas por essa nação miscigenada. Neste texto, falaremos de Mãe Chica, uma parteira de "mão cheia", como dizem por aqui.    



   Antônia Francisca de Jesus, nasceu em um lugar de nome Podoi no dia 17 de novembro de 1896 e faleceu no dia 4 de janeiro de 1994. Foram quase cem anos de uma vida simples, porém de muita prestação de serviços, inclusive o de parteira, onde teve o prazer de ajudar muita gente, morou ainda nas localidades São Paulo e São João Velho, onde passou a maior parte da sua vida e onde constituiu família. Casou com Francisco Marinho Chaves e teve sete filhos: Raimundo, Simião, Luiz, Maria, Hortência, Nazaré e Francisca.

Por causa de seu ofício, que acreditava ser um dom lhe dado por Deus, Francisca de Jesus, passou a ser conhecida na região circunvizinha, como Mãe Chica. Descendente da mucama Virginia que trabalhava no Sobrado Velho, uma rica fazenda de gado da antiga Vila de Marvão, ali na região do Buriti do Sobrado. Além da valorosa contribuição como parteira, Mãe Chica também gostava de contar histórias, o que a ajudou a preservar inúmeras delas, que hoje circundam o imaginário popular dos mais antigos moradores da região do Buriti do Sobrado. De boa memória, repassou através da oralidade muitas das histórias que conhecemos hoje sobre o Sobrado Velho.

Ruínas do Sobrado Velho, povoado Buriti do Sobrado.


Dizia ela que quando criança ouvia muito seus familiares falarem de um grande acontecimento na casa grande: a  festa foi do casamento da filha do coronel Zizuino (Irineu Gomes Ferreira), dono do Sobrado Velho com um filho do coronel Luís Carlos, da fazenda Serra Negra. segundo ela, as duas famílias eram muito orgulhosas, as riquezas de uma teria que ser parecida com a da outra para poder ter o casamento. A valorização de posses fica visível, num fato, contado por mãe Chica, que ocorreu durante o casamento: quando os noivos passaram por um tapete vermelho, estendido no salão da casa, foi jogado ouro em pó neles. Imagine essa cena, caro leitor, foi ou não uma festa com muito luxo?

Mãe Chica também era rezadeira e procurada por muitas pessoas, que às vezes, vinham de longe, em busca da cura. Para que essas pessoas encontrassem a casa da parteira/benzedeira,  um riacho serviu como ponto de referência. Por conta disso, o tal riacho, que corta a estrada do povoado Barreiras, passou a ser chamado de Riacho da Mãe Chica.

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Texto: Augusto Júnior Vasconcelos.
Colaboração e revisão de texto: Rita Ferreira Marcelino.
Fonte: Maria Alves Mineiro / Alice Araújo.

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